Tufão - Cap. 2: II Pág. 19 / 103

O capitão MacWhirr reparou especialmente em dois deles, estendidos de costas por baixo da ponte. Logo que fechavam os olhos pareciam mortos. Dois outros, porém, discutiam barbaramente mais para vante; e um tipo enorme, meio despido, com ombros hercúleos, pendia molemente sobre um guincho; outro, sentado no convés, os joelhos erguidos e a cabeça caída para o lado numa atitude efeminada, estava a entrançar o rabicho com infinito langor, expresso em toda a sua pessoa e no próprio movimento dos seus dedos. O fumo saía com dificuldade da chaminé, e em vez de fugir para trás espalhava-se como uma nuvem infernal, fedendo a enxofre e derramando fuligem por cima de todas as cobertas.

- Que diabo está a fazer aí, senhor Jukes? - perguntou o capitão MacWhirr.

Esta maneira inusitada de chamá-lo, embora mais murmurada que articulada, fez com que o corpo do senhor Jukes estremecesse como se lhe tivessem enfiado um dedo debaixo da quinta costela. Ele tinha mandado trazer para a ponte um banco baixo, e sentado nele, com um bocado de corda enrolada aos pés e um pedaço de lona estendido sobre os joelhos, empurrava vigorosamente uma agulha de marinheiro. Levantou a cabeça, e a surpresa deu-lhe aos olhos uma expressão de inocência e candura.

- Estou apenas a reforçar alguns desses sacos que fizemos na viagem passada para carregar carvão - obtemperou ele, suavemente. - Vamos precisar deles para quando voltarmos a meter carvão, sir.

- E que foi feito dos outros?

- Naturalmente gastaram-se, sir.

O capitão MacWhirr, depois de baixar os olhos irresolutamente para o seu imediato, exprimiu a melancólica e cínica convicção de que «se alguma vez se soubesse a verdade» metade deles tinham ido pela borda fora, e afastou-se para o outro lado da ponte.





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