V ESPEROU. DIANTE DOS SEUS OLHOS as máquinas giravam num trabalho lento, que no momento de o navio entrar num dos seus mergulhos loucos cessava completamente ao grito de «Atenção, Beale!» do senhor Rout. As máquinas paravam então numa imobilidade inteligente, subitamente detidas, um pesado volante interrompia o seu movimento, como consciente do perigo e da passagem do tempo. Depois, com um «É agora!» do chefe e o som de um sopro expelido por entre uns dentes cerrados, completavam a revolução interrompida e iniciavam outra.
Havia a prudente sagacidade da sabedoria e a ponderação de uma força enorme nos seus movimentos. Era este o trabalho delas - esta paciente condução de um navio sacudido pela fúria das vagas e rumando a direito contra o vento. De vez em quando o queixo do senhor Rout caía-lhe sobre o peito, e ele punha-se a observá-las com os sobrolhos franzidos como se perdido em pensamentos.
A voz que afastava o furacão dos ouvidos de Jukes começou: «Leve os marinheiros consigo...», e desapareceu inesperadamente.
- Que posso eu fazer com eles, sir?
Um som metálico, abrupto, imperioso, explodiu subitamente. Os três pares de olhos voaram para o mostrador do telégrafo e viram o ponteiro saltar de TODA A FORÇA para ATENÇÃO como se subitamente agarrado por um diabo. E depois esses três homens na casa das máquinas tiveram a íntima sensação de uma hesitação do navio, de uma estranha contracção, como se ele estivesse a reunir forças para um salto desesperado.
- Pare-o! - bramiu o senhor Rout.
Ninguém - nem mesmo o capitão MacWhirr, que sozinho na ponte tinha tido um vislumbre da linha branca de espuma aproximando-se a uma altura tal que ele nem podia crer nos seus olhos - ninguém jamais havia de saber o grau de inclinação daquela vaga nem a pavorosa profundidade do abismo que o furacão tinha escavado atrás da parede líquida que se precipitava.