Tufão - Cap. 4: IV Pág. 49 / 103

IV

TUDO O QUE o mestre, no meio de uma superabundância de gritos, conseguiu tornar claro para o capitão MacWhirr foi a bizarra informação de que «Todos esses chineses na coberta da vante perderam a cabeça, sir»,

Jukes, a sotavento, ouvia aqueles dois aos gritos a seis polegadas da sua cara, como uma pessoa pode ouvir numa noite calma dois homens a conversar num campo a meia milha de distância. Ouvia o exasperado «O quê? O quê?» do capitão MacWhirr e a voz rouca do outro esforçando-se por se fazer ouvir. «Uns por cima dos outros... Vi com os meus olhos... Um espectáculo medonho... pensei... dizer-lhe.»

Jukes manteve-se indiferente, como se tornado irresponsável pela força do furacão, que tornava o próprio pensamento de qualquer acção supremamente fútil. Além disso, sendo muito novo, tinha achado a ocupação de manter o seu coração completamente empedernido contra o pior tão absorvente que sentia uma avassaladora antipatia por qualquer outra forma de actividade, fosse ela qual fosse. Não estava com medo; sabia isso porque, acreditando firmemente que nunca mais voltaria a ver nascer o Sol, se conservava calmo nessa convicção.

São estes os momentos de heroísmo passivo a que muitos homens corajosos sucumbem às vezes. Muitos oficiais de marinha podem sem dúvida recordar na sua experiência situações em que um semelhante transe de abominável estoicismo se apodera subitamente de toda a tripulação de um navio. Jukes, porém, não tinha grande experiência de homens ou de tempestades. Julgava que estava calmo - inexoravelmente calmo; mas de facto estava assustado; não abjectamente, apenas na medida em que um homem decente pode estar, sem se tornar desprezível aos seus próprios olhos.

Era antes como um torpor intelectual que lhe era imposto.





Os capítulos deste livro