A hélice bateu em falso, os três chineses à vante desistiram muito subitamente de discutir, e o que estivera a entrançar o rabicho abraçou as pernas e pôs-se a olhar desanimadamente por cima dos joelhos. O sol lívido projectava sombras vagas e doentias. As ondas largas tornavam-se mais altas e mais rápidas a cada momento e o navio balançava pesadamente nas concavidades lisas e profundas do mar.
- Sempre gostava de saber de onde vem esta maldita ondulação? - disse Jukes em voz alta, recompondo-se depois de um cambaleio.
- De nordeste - rosnou o literal MacWhirr, do seu lado da ponte. - Anda por aí um bocado de mau tempo. Vá dar uma olhadela ao barómetro.
Quando Jukes voltou da casa de navegação o seu semblante tinha adquirido uma expressão pensativa e preocupada. Apoiou-se à amurada da ponte e fixou os olhos ao longe.
A temperatura da casa das máquinas tinha subido para mais de quarenta e sete graus. Vozes irritadas subiam através da escotilha envidraçada e através da borda da casa das caldeiras num áspero e ressonante tumulto, misturado com sons estridentes e raspagens furiosas de metal, como se homens com membros de ferro e gargantas de bronze estivessem a discutir lá em baixo. O segundo-maquinista altercava com os fogueiros por deixarem cair o vapor. Era um homem com braços de ferreiro e geralmente temido; mas nessa tarde os fogueiros respondiam-lhe temerariamente e batiam as portas da fornalha com a fúria do desespero. Depois o barulho cessou subitamente e o segundo-maquinista apareceu, emergindo da casa das caldeiras todo riscado de fuligem e ensopado como um limpa-chaminés.