A vaga correu ao encontro do navio e, com uma pausa, como se para firmar os rins, o Nan-Shan ergueu a proa e saltou. As chamas de todas as lâmpadas baixaram, escurecendo a casa das máquinas. Uma apagou-se. Com um choque devastador e o tumulto de um redemoinho furioso, toneladas de água caíram sobre o tombadilho, como se o navio se tivesse precipitado debaixo de uma catarata.
Lá em baixo os homens olharam uns para os outros atordoados.
- Varrido de ponta a ponta, caramba! - gritou Jukes. O navio mergulhou de cabeça no abismo, como se estivesse a transpor a orla do mundo. A casa das máquinas tombou para a frente ameaçadoramente, como o interior de uma torre sacudida por um terramoto. Um barulho pavoroso, de coisas de ferro a cair, veio da casa das caldeiras. O navio esteve suspenso nesta medonha inclinação o tempo suficiente para Beale cair de gatas e começar a rastejar como se quisesse escapulir-se da casa das máquinas a gatinhar, e para o senhor Rout voltar a cabeça lentamente rígida, cavernosa, com o maxilar inferior caído. Jukes tinha fechado os olhos, e o seu rosto num momento tornou-se irremediavelmente vazio e suave, como o rosto de um cego.
Por fim o navio ergueu-se lentamente, titubeando, como se tivesse de erguer uma montanha com a proa.
O senhor Rout fechou a boca; Jukes pestanejou; e o pequeno Beale pôs-se precipitadamente de pé.
- Outra como esta e acabou-se - gritou o chefe. Ele e Jukes olharam um para o outro e ocorreu-lhes o mesmo pensamento. O capitão! A vaga devia ter levado tudo. O aparelho do leme fora-se - o navio era como um tronco à deriva. Completamente liquidado.
- Corra! - ejaculou o senhor Rout numa voz espessa, fitando Jukes com uns olhos arregalados hesitantes, e Jukes respondeu-lhe com uma olhadela irresoluta.
