Capítulo 63: CAPÍTULO LXIII - De como Sancho Pança se deu mal com a visita às galés e da nova aventura da formosa mourisca.
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sim; mas que não era homem, era mulher como eu, e que lhe suplicava que ma deixasse ir vestir com os seus trajos naturais, para que mostrasse completamente a sua beleza, e com menos embaraço aparecesse na sua presença. Respondeu-me que fosse, e que outro dia falaríamos no modo de eu poder voltar a Espanha desenterrar o tesouro escondido. Falei com D. Gaspar, contei-lhe o perigo que corria, vesti-o de moura, e naquela mesma tarde o levei à presença do dei, o qual, apenas a viu, ficou admirado e projetou guardá-la, para fazer presente dela ao grão-senhor; e, para fugir do perigo, que no serralho das suas mulheres podia correr, mandou-a pôr em casa dumas mouras principais, para que a guardassem e servissem; para ali o levaram logo. O que ambos sentimos (pois não posso negar quanto lhe quero) deixo-o à consideração dos que se apartam, querendo-se bem. Tratou logo o dei de me fazer voltar a Espanha neste bergantim, ordenando que me acompanhassem dois turcos de nação, que foram os que mataram os vossos soldados. Veio também comigo este renegado espanhol — e apontou para o que primeiro falara — que sei perfeitamente que é cristão encoberto, e que vem com mais desejo de ficar na Espanha, do que de voltar à Berberia; o resto da chusma da galé são mouros, que não servem senão para remar. Os dois turcos insolentes e cobiçosos, sem respeitar a ordem que traziam, de nos porem em terra, a mim e a este renegado, no primeiro sítio de Espanha que topássemos, depois de nos vestirmos à moda cristã, com fato de que vínhamos providos, quiseram primeiro varrer esta costa e fazer alguma presa, se pudessem, receando que, se primeiro nos deitassem em terra, em qualquer desastre que nos sucedesse pudéssemos descobrir que ficava o bergantim no mar, e que o aprisionassem, se por acaso houvesse galés por aqui.
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