Foi o mais lamentoso conto, pois a garota terminou fugindo com um homem absolutamente inferior a ela, não só socialmente, mas também em personalidade e intelecto. Eu escrevi à minha amiga naquela noite sobre minhas opiniões sobre John Bellini, e os admiráveis gelos em Florian’s, e o valor artístico das gôndolas, mas acrescentei uma nota sobre como sua equivalente na história se comportou de uma forma bem tola. Eu não sei por que a adicionei, mas lembro de ter tido um certo medo de que ela pudesse fazer a mesma coisa. Antes de minha carta tê-la alcançado, ela tinha fugido com um homem que a abandonou em seis meses. Eu a vi em 1884 em Paris, onde ela estava morando com sua mãe, e lhe perguntei se a história tinha alguma coisa a ver com sua ação. Ela me disse que tinha sido um impulso absolutamente irresistível de seguir a heroína passo a passo em seu estranho e fatal progresso, e que foi com um sentimento de real terror que ela olhou os últimos capítulos da história. Quando eles apareceram, pareceu a ela que estava compelida a reproduzir eles em vida, e assim o fez. Foi um claríssimo exemplo desse instinto imitativo do qual eu falava, e um extremamente trágico.
No entanto, não quero me estender mais em exemplos individuais. Experiência pessoal é um círculo bem vicioso e limitado. Tudo que eu desejo apontar é o princípio geral de que a Vida imita a Arte bem mais que a Arte imita a Vida, e estou seguro de que se você pensar seriamente descobrirá que é verdade. A Vida segura o espelho sobre a Arte, e ou reproduz algum estranho tipo imaginado por pintor ou escultor, ou percebe em fatos o que foi sonhado na ficção. Cientificamente falando, a base da vida – a energia da vida, como Aristóteles a chamaria – é simplesmente o desejo pela expressão, e a Arte está sempre apresentando várias formas pelas quais essa expressão pode ser alcançada.