O aspeto do mundo em si irá mudar aos nossos deslumbrados olhos. Além-mar se erguerão Beemonte e Leviatã, e navegarão ao redor das galés de alta popa, como o fazem nos agradáveis mapas daquelas épocas em que livros de geografia eram legíveis. Dragões errarão por ermos lugares, e a fênix levantará vôo de seu ninho de fogo em direção ao ar. Nós colocaremos nossas mãos sobre o basilisco (
figura mitológica), e veremos a joia na cabeça do sapo. Mastigando ruidosamente suas aveias douradas, o hipogrifo ficará em nossos estábulos, e sobre nossas cabeças flutuará o Pássaro Azul cantando coisas belas e impossíveis, coisas que são adoráveis e que nunca acontecem, coisas que não são e que deviam ser. Mas antes disso suceder nós devemos cultivar a perdida arte da Mentira.”
Cyril – Então devemos cultivá-la toda de uma vez. Mas para evitar qualquer erro eu quero que me conte brevemente as doutrinas da nova estética.
Vivian – Brevemente, então, são estas. A Arte nunca expressa nada além de si mesma. Ela tem uma vida independente, assim como o Pensamento, e se desenvolve puramente em suas próprias linhas. Não é necessariamente realística numa época de realismo, nem espiritual numa época de fé. Bem longe de ser a criação de seu tempo, é geralmente em direta oposição a este, e a única história que preserva é a história de seu próprio progresso. Às vezes retorna a seus passos, e revive alguma forma antiga, como ocorrido no movimento arcaísta da recente Arte Grega, e no movimento pré-rafaelita de nosso próprio tempo.
Outras vezes antecipa completamente sua época, e produz em um século obras que necessitam outro século para serem entendidas, valorizadas e apreciadas.