O Discurso do Método - Cap. 5: Capítulo 5 Pág. 45 / 71

E como o sangue, que penetra assim no coração, passa por essas duas bolsas que são denominadas suas orelhas, resulta que o movimento dessas é contrário ao seu, e que elas desincham quando ele infla. De resto, para que aqueles que não conhecem a força das demonstrações matemáticas, e não estão habituados a discernir as razões verdadeiras e as prováveis, não se arrisquem a negar tal fato sem uma análise, quero chamar-lhes a atenção para o fato de que esse movimento que acabo de descrever decorre necessariamente da simples disposição dos órgãos que se podem divisar a olho nu no coração, e do calor que se pode sentir com os dedos, e da natureza do sangue que se pode conhecer por experiência, como o movimento de um relógio decorre da força, da posição e da forma de seus contrapesos e rodas.

Porém, se me for perguntado por que o sangue das veias não se esgota, fluindo continuamente para o coração, e por que as artérias não se enchem demais, já que tudo quanto passa pelo coração para elas se dirige, não preciso responder nada mais do que já foi escrito por um médico da Inglaterra, a quem é preciso dar o louvor de ter rompido o gelo neste ponto, e de ser o primeiro a ter ensinado a existência de muitas pequenas passagens nas extremidades das artérias, por onde o sangue que elas recebem do coração penetra nos diminutos ramos das veias, de onde ele torna a dirigir-se para o coração, de maneira que o seu curso é uma circulação perpétua.





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