O Discurso do Método - Cap. 5: Capítulo 5 Pág. 46 / 71

. E isso ele prova muito bem pela experiência comum dos cirurgiões, que, amarrando o braço, sem apertá-lo muito, acima do local onde abrem a veia, fazem com que o sangue saia dela com mais abundância do que se não o tivessem amarrado. E aconteceria exatamente o contrário se eles o amarrassem mais abaixo, entre a mão e a abertura, ou então se o amarrassem com muita força em cima. Pois é evidente que o laço medianamente apertado, embora impedindo que o sangue, que já se encontra no braço, retorne ao coração pelas veias, não impede que para aí sempre aflua novo sangue pelas artérias, porque estas se situam por baixo das veias, e porque suas peles, sendo mais rijas, são mais difíceis de pressionar, e também porque o sangue proveniente do coração tende com mais força a passar por elas em direção à mão do que a voltar daí para o coração pelas veias. E, como esse sangue sai do braço pela abertura que há numa das veias, devem necessariamente existir algumas passagens abaixo do laço, ou seja, na direção das extremidades do braço, por onde possa vir das artérias. Além disso, ele prova bastante bem o que afirma a respeito do fluxo do sangue por certas pequenas peles, as quais se encontram de tal maneira dispostas em diversos pontos ao longo das veias, que não lhe permitem passar do meio do corpo para as extremidades, mas somente retornar das extremidades para o coração, e, ademais, pela experiência que mostra que todo o sangue que há no corpo pode dele sair em muito pouco tempo por uma única artéria, quando secionada, até mesmo se ela fosse fortemente amarrada muito próxima do coração, e secionada entre ele e a ligadura, de maneira que não houvesse motivo de imaginar que o sangue que daí saísse procedesse de outro lugar.




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