- Mas porquê?
- Porque, meu caro Watson, tinha a mais forte das razões para querer que certas pessoas pensem que eu estava ali quando, na realidade, estava noutro sítio.
- E pensou que os seus aposentos estavam a ser vigiados?
- Eu sabia que estavam a ser vigiados.
- Por quem?
- Pelos meus velhos inimigos, Watson. Pela encantadora quadrilha cujo chefe jaz no Reichenbach Fall. Lembre-se de que eles, e apenas eles sabiam que eu ainda estava vivo. Acreditavam que mais cedo ou mais tarde eu regressaria aos meus antigos aposentos. Vigiaram-nos continuamente e esta manhã viram-me entrar.
- Como é que sabe?
- Porque reconheci a sentinela ao olhar pela janela. É um tipo inofensivo, que dá pelo nome de Parker, estrangulador de ofício e tocador exímio de berimbau. Não me preocupei com ele. Mas preocupei-me bastante com a pessoa muito mais importante que estava atrás dele, o amigo íntimo de Moriarty, o homem que lançou as rochas de cima do penhasco, o criminoso mais astuto e perigoso de Londres. É ele o homem que esta noite me persegue, Watson. E é ele o homem que desconhece em absoluto que nós o perseguimos a ele.
Os planos do meu amigo iam sendo lentamente revelados. Daquele conveniente refúgio, os que vigiavam estavam a ser vigiados, e os perseguidores, perseguidos. Aquela sombra angulosa lá em cima era o chamariz e nós éramos os caçadores. Ficámos de pé, em silêncio, na escuridão e observámos as figuras apressadas que passavam e voltavam a passar à nossa frente. Holmes estava calado e imóvel, mas eu sabia que ele estava excepcionalmente atento e que os seus olhos fixavam intensamente as pessoas que passavam.