O Regresso de Sherlock Holmes - Cap. 1: A Aventura da Casa Vazia Pág. 17 / 363

Era uma noite gélida e tormentosa e o vento uivava ao longo da rua. Passavam muitas pessoas num sentido e no outro, a maioria abafada por casacos e cachecóis. Uma ou duas vezes pareceu-me ver a mesma pessoa e notei, em especial, dois homens que pareciam abrigar-se do vento na porta de entrada de uma casa a certa distância ao cimo da rua. Tentei chamar a atenção do meu companheiro para esses homens, mas ele fez uma pequena interjeição de impaciência e continuou a olhar fixamente para a rua. Por mais de uma vez mexeu os pés e bateu rapidamente com os dedos na parede. Percebi claramente que estava a ficar impaciente e que os seus planos não estavam a cumprir-se exactamente como ele esperara. Finalmente, quando já era quase meia-noite e a rua ia ficando gradualmente mais vazia, começou a andar de um lado para o outro na sala numa agitação incontrolável. Ia fazer-lhe um comentário qualquer quando ergui os olhos para a janela iluminada e senti novamente uma surpresa quase tão grande como a inicial. Agarrei o braço de Holmes e apontei para cima.

-A sombra moveu-se! - exclamei.

De facto, já não era o perfil que estava voltado para nós, mas sim as costas.

Os três anos que tinham passado não tinham de forma alguma atenuado a rispidez do seu temperamento ou a sua impaciência face a uma inteligência menos activa que a sua.

- Claro que se moveu -, disse. - Serei eu tão ridículo ineficiente que ao montar aquilo que é obviamente um boneco espere que alguns dos homens mais espertos da Europa sejam enganados por ele, Watson? Estamos nesta sala há duas horas e Mrs Hudson já moveu aquela figura oito vezes, ou -seja, de quarto em quarto de hora. Fá-lo pela parte da frente, de forma a que a sua sombra nunca se veja.





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