Já lidei com cinquenta assassinos ao longo da minha carreira, mas o pior de todos eles nunca me fez sentir a repulsa que sinto por este tipo. E, no entanto, não consigo deixar de fazer negócio com ele... na realidade, ele vem cá a pedido meu.
- Mas quem é ele?
- Dir-lhe-ei, Watson. É o rei dos chantagistas. Deus ajude o homem, ou ainda mais a mulher, cujo segredo e reputação cheguem às mãos de Milverton. De rosto sorridente e coração de mármore, extorquirá e continuará a extorquir todo o seu dinheiro até os deixar na penúria. O tipo é, à sua maneira, um génio, e teria sido brilhante num outro negócio mais atraente. O seu método é o seguinte: faz saber que está na disposição de pagar somas extremamente elevadas por cartas que comprometam pessoas ricas e de posição. Recebe essas mercadorias não só de criadas ou criados traiçoeiros, mas também frequentemente de malandros de fino trato que conquistaram a confiança e o afecto de mulheres incautas. É um homem que paga generosamente. Sei que pagou setecentas libras a um criado por um bilhete de duas linhas e o resultado foi a ruína de uma família nobre. Tudo o que está no mercado vai para Milverton, e há centenas de pessoas nesta grande cidade que empalidecem ao ouvir o seu nome. Ninguém sabe onde cairá a sua garra, pois é demasiado rico e demasiado astuto para trabalhar directamente. Pode reter um cartão durante anos de forma a jogá-lo no momento em que a parada mais alta for. Disse que era o pior homem de Londres e pergunto-lhe como é que se pode comparar o rufia que, em fúria, mata o seu companheiro, com este homem que metodicamente e com toda a calma tortura a alma e esfrangalha os nervos a fim de encher ainda mais os seus cofres?
Raras vezes ouvi o meu amigo falar com tanta intensidade de sentimento.