Se o senhor e o seu amigo se quiserem sentar, contar-lhes-ei tudo quanto sei.
- Sou a mulher de Sir Eustace Brackenstall. Estou casada há cerca de um ano. Penso que não servirá de nada tentar esconder-lhe que o nosso casamento não era um casamento feliz. Todos os nossos vizinhos lhe dirão isso, mesmo que eu tente ocultá-lo. Talvez a culpa seja, em parte, minha. Fui criada no ambiente mais livre e menos convencional do Sul da Austrália e a vida inglesa, com a sua rigidez e formalismo, não me agrada. Mas a razão principal reside num facto, que é do conhecimento geral, e que é que Sir Eustace era um alcoólico crónico. Estar com um homem destes durante uma hora é desagradável. Pode imaginar o que é que significa para uma mulher sensível e independente estar amarrada a ele dia e noite! É um sacrilégio, um crime, uma vilania defender que um casamento destes é válido. Afirmo-lhe que as vossas monstruosas leis trarão uma maldição a este país... Deus não permitirá que tal maldade continue a existir. - Soergueu-se por instantes, com o rosto-corado e com os olhos a brilhar sob a terrível marca no sobrolho. Depois, a mão firme e tranquilizadora da austera criada fê-la pousar a cabeça na almofada e a terrível ira deu lugar a uma forte crise de choro. Finalmente continuou:
- Contar-lhe-ei o que se passou ontem à noite. Talvez já saiba que nesta casa todos os criados dormem na ala moderna. Este bloco central é constituído por salas, com a cozinha nas traseiras e o quarto no andar de cima. A minha criada, a Theresa, dorme num quarto por cima do meu. Não dorme cá mais ninguém e os que vivem na ala mais afastada não ouviriam qualquer barulho. Os ladrões deviam saber isto, senão não teriam agido como agiram.