Mas aquilo que me parece mais estranho é a senhora ter sido amarrada à cadeira.
- Bom não tenho uma ideia muito clara acerca disso, Watson, pois é evidente que ou a matavam ou tinham de a impedir de dar o alarme imediatamente após a sua fuga. Mas, seja como for, mostrei que há um certo elemento de improbabilidade na história de Lady Brackenstall, não acha? E, depois, a acrescentar a tudo isto, temos o incidente dos copos de vinho.
- Que é que têm os copos de vinho?
- Consegue lembrar-se deles?
- Lembro-me claramente.
- Foi-nos dito que três homens tinham bebido por eles. Acha que isso é provável?
- Por que não? Havia vinho em cada um dos copos.
- Exactamente. Mas como é que só um tinha depósito? Deve ter reparado nisso. Que é que isso lhe sugere?
- O último copo a ser cheio seria aquele onde o depósito ficaria.
- De forma nenhuma. A garrafa estava cheia e é inconcebível que o vinho dos dois primeiros copos estivesse límpido e o do terceiro copo cheio de depósito. Há duas explicações possíveis, e apenas duas. Uma é que depois de o segundo copo ser cheio, a garrafa foi violentamente agitada, de forma que o terceiro copo ficou com depósito. Isso não parece muito provável. Não, não, estou certo de que tenho razão.
- Então, que é que pensa que aconteceu?
- Que apenas dois copos foram utilizados e que o depósito de ambos foi deitado num terceiro copo para dar a falsa impressão de 11\ terem estado três pessoas. Dessa forma, todo o depósito ficaria no último copo, não será? Sim, estou convencido de que foi isto que se passou. Mas se acertei na verdadeira explicação deste pequeno fenómeno o caso deixa imediatamente de ser um caso vulgar para ser um caso absolutamente extraordinário, pois tudo isto só pode significar que Lady Brackenstall e a sua criada nos mentiram deliberadamente, que nem uma palavra da sua história é verdade, que têm uma razão muito forte para esconderem quem é o verdadeiro criminoso e que temos de ser nós a elaborar o caso sem qualquer ajuda da sua parte.
