A Utopia - Cap. 3: Capítulo 3 Pág. 118 / 133

a religião que quisesse, e que poderia fazer todo o possível para conquistar a aderência dos outros, com a condição única de o fazer calmamente, com sobriedade e doçura, sem invectivas e desprezo por eles. Se o não conseguisse pelas palavras calmas e suaves, não deveria usar de violência ou de injúria. Quem o fizesse seria castigado com o exílio ou a escravidão.

Ora o rei Utopos decretou esta lei não só para manter a paz, outrora perturbada por permanentes combates e ódios mortais, mas também no interesse da própria religião. Nunca se atreveu a definir ou estabelecer coisa alguma em matéria de fé, não sabendo se Deus inspirava aos homens crenças diversas, por desejar ser honrado por cultos diferentes. Considerou também absurdo e presunçoso obrigar outrem a adoptar a mesma crença pela violência ou ameaças.

E mais, embora haja apenas uma só religião verdadeira, e todas as outras falsas, previa que a verdade, a suavidade e a razão dessa religião viria mais tarde à luz do dia. Mas se a controvérsia a esse respeito fosse permanente, por teimosia e obstinação no erro, mesmo as melhores e mais santas religiões ficariam enterradas e destruídas por vãs superstições. Tal corno o bom trigo é invadido por ervas daninhas e silvas. Deixou, por isso, a todo o cidadão, liberdade de consciência e escolha para acreditar no que quisesse. Condenou, no entanto, severamente, os que degradam, mesquinhamente, a dignidade da sua natureza, pensando que as almas morrem com o corpo, ou que o mundo é governado pelo acaso e que não existe providência divina.

Acreditam os Utopianos que, depois desta vida, os crimes sofrem castigo e a virtude recompensa. Não consideram como homem o que tem opinião contrária, e que degrada a natureza sublime da sua alma, na vil condição dum corpo de bicho, e menos ainda como cidadão duma república cujas leis e instituições





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