A Utopia - Cap. 2: Capítulo 2 Pág. 26 / 133

que respondem, considerando a memória digna dos maiores elogios:

- De facto, Sire - disse - falastes muito bem, sobretudo a um estrangeiro que apenas conhece estes assuntos de ouvir ralar e não por um conhecimento exacto e feito de experiência, como o meu discurso vos provará. Fá-lo-ei pela seguinte ordem: em primeiro lugar, recapitularei ordenadamente tudo o que dissestes; em seguida, mostrarei os erros a que a ignorância da matéria vos levou, e, por último, refutarei os vossos argumentos e reduzi-los-ei a pedaços. Portanto, começo como prometi. Parece-me que, em quatro pontos...

- Um momento - interrompeu o cardeal. - Parece-me, pelo início da vossa resposta, que ela não pecará pela brevidade, bem pelo contrário. Por isso, por hoje, poupar-vos-ei esse trabalho, reservando-o para o vosso próximo encontro, que gostaria que se desse amanhã, a menos que, vós, ou Rafael, por qualquer motivo, o não possais fazer. Entretanto, caro Rafael, sentir-me- -ia muito feliz se me explicásseis por que razão pensais que o roubo não merece a morte, ou que outro castigo consideraríeis mais útil para a segurança pública. Pois estou certo que não sois dos que pensam que o roubo deve ser deixado sem castigo. Se a forca não consegue impedi-los de roubar, que aconteceria, então, se os celerados e ladrões tivessem a certeza de que não arriscavam a pele? Que sanção os deteria então e os impediria de roubar? Que aconteceria se encarassem a suavização do castigo como encorajamento ao crime?

- De facto, Eminência, penso que não é certo nem justo que o ter-se apoderado do dinheiro alheio acarrete ao ladrão a perda da vida. Isto porque penso também que riqueza alguma pode justificar a perda de uma vida humana. Mas, se me objectarem que este. castigo pretende punir a transgressão da lei e da justiça,





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