valor, em qualquer tempo ou pais. Só as compram depois de lhes ter tirado o engaste e examinado e de exigir ao vendedor um juramento de garantia e caução de que a pedra é verdadeira e não artificial. Tomam tais cuidados por recearem que uma pedra falsa os engane. Ora o prazer não será o mesmo ao olhar uma pedra falsa que os seus olhos não conseguem distinguir da verdadeira? Deveriam ter ambas para quem as vê o mesmo valor que para o cego, que as não vê.
Que dizer dos avarentos que amontoam riquezas supérfluas, unicamente para se deliciarem na sua contemplação e não para delas se utilizarem? Será um prazer falso ou verdadeiro?
E que dizer então dos que, possuídos do vício contrário, escondem o ouro que nunca utilizarão, e talvez nunca mais verão? E, ao preocuparem-se com a sua perda, perdem-no efectivamente. Não será um dano escondê-lo sob a terra, roubando-o ao seu próprio uso, ou mesmo ao dos outros.
E, no entanto, o avarento, depois de ter escondido o seu tesouro, já sem cuidados, entrega-se à alegria. E acaso roubado esse mesmo tesouro, poderá morrer dez anos depois, sem o ter sabido. Dez anos em que viveu, depois de roubado o seu tesouro, que diferença lhe fez que ele tivesse sido roubado ou o tivesse conservado durante esse tempo? Em ambos os casos, na verdade, o proveito é o mesmo.
A estes prazeres idiotas acrescentam os Utopianos os jogos de azar, cuja loucura só conhecem de nome, e não por os praticarem, o que nunca fazem. Também neles incluem a caça. Ora, que prazer haverá, dizem, em lançar um dado sobre a mesa. E, mesmo que algum prazer houvesse, tantas vezes o gesto se repete que deve levar sem dúvida ao cansaço!
Ou que prazer se pode ter ao ouvir ladrar e uivar os cães? Não será antes um incómodo? Que prazer maior haverá em ver um
