O espírito dos Utopianos, incessantemente exercitados e embebidos no estudo, é extraordinariamente apto para a invenção de descobertas úteis ao bem-estar e à vida humana. Contudo, devem-nos a imprensa e o fabrico do papel, embora sejam ainda mais devedores, nesses casos, da sua capacidade espantosa que de nós próprios.
Quando lhes mostrámos as edições Aldo e lhes falámos da matéria utilizada no fabrico do papel e nos processos de imprimir as letras, falando porém vagamente de tudo isso, pois nenhum de nós conhecia perfeitamente esses assuntos, em breve adivinharam todo o processo. E se até aí escreviam em peles de animais, cascas de árvore e sobre folhas de papiro, conseguiram então fabricar papel e imprimir. E embora os resultados não tenham sido de início brilhantes, conseguiram, em curto espaço de tempo, por sucessivas tentativas, dominar ambos os processos, atingindo tal perfeição que, se tivessem todas as obras dos autores gregos, não lhes faltariam livros. Porém, apenas possuem os que atrás referi, embora os tenham já multiplicado por milhares de exemplares.
O estrangeiro que chegue à Utopia, para visitar o país, recebem-no e tratam-no com todas as honras, especialmente se é recomendado por algum mérito ou dom do espírito, ou se, pelas longas viagens, obteve a experiência e o exacto conhecimento de muitas terras e coisas (esta a razão por que nos receberam tão bem). Gostam de saber oque se passa nos outros países, pois poucos comerciantes ali se deslocam.
E que poderiam eles lá levar, com excepção do ferro, do ouro e da prata, que não tivessem de voltar a trazer de novo para o seu país? Quanto ao que exportam, os Utopianos decidiram ser eles próprios a fazê-lo, em vez de os outros irem à Utopia buscar as mercadorias, isto com a dupla intenção de conhecer melhor
