A Vida Amorosa de Moll Flanders - Cap. 2: A vida amorosa de Moll Flanders Pág. 337 / 359

Imaginai, se puderdes, a confusão de alegria e medo que se apoderou do meu espírito, pois compreendi imediatamente que o jovem não era outro senão o meu próprio filho, gerado por aquele homem que era meu irmão. Não levava máscara, mas embioquei-me no capuz e esperei que, depois de uma ausência de mais de vinte anos, não me reconheceria, tanto mais que não esperava que me encontrasse ali. Não precisava, porém, de tantas cautelas, pois o velho tornara-se curto de vista devido a qualquer mazela que tivera nos olhos e via apenas o suficiente para andar sem chocar com as árvores ou cair nalguma vala. A mulher que me acompanhava deu-me estas informações por mero acaso, sem imaginar a importância que tinham para mim. Quando os dois homens se aproximaram, perguntei-lhe:

- Ele conhece-a, Mrs. Owen (era este o seu nome)?

- Sim, se me ouvir falar, conhecer-me-á. Mas não vê o suficiente para me reconhecer de outra maneira, a mim ou a qualquer outra pessoa.- E contou-me então a história da sua falta de vista como já relatei.

Tranquila, afastei o capuz e deixei-os passar por mim. Que angústia era uma mãe ver passar assim o seu próprio filho, um belo cavalheiro, simpático e próspero, e não ousar dar-se a conhecer! Se alguma mãe ler estas páginas, que o avalie por si e pense no tormento de alma que senti, no anseio louco de o abraçar, de chorar agarrada a ele! As próprias entranhas se me revoltaram, fiquei sem saber que fazer e não sei sequer exprimir por palavras as agonias que sofri. Quando se afastou, fiquei a olhar, e a tremer, e a olhar, até desaparecer da minha vista. Depois sentei-me na relva, fingi deitar-me para repousar, ocultei o rosto da mulher e chorei e beijei o chão que ele pisara.

Apesar dos meus esforços, não consegui ocultar-lhe por completo a minha perturbação e ela pensou que me sentisse indisposta, o que fingi ser verdade.





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