Aconselhou-me a levantar, pois o solo estava húmido e era perigoso, e afastámo-nos.
Quando regressávamos, ainda a falar do velho cavalheiro e do filho, tive novo motivo de angústia nas palavras que a mulher disse, no tom de quem me contava uma coisa divertida:
- Consta entre os anteriores vizinhos daquele senhor uma história muito estranha...
- De que se trata?
- Diz-se que o velho esteve em Inglaterra, quando era jovem, e se apaixonou por uma senhora, uma das mulheres mais bonitas que já se viram, a desposou e trouxe para junto de sua mãe, que ainda era viva. Viveu alguns anos com ela e tiveram vários filhos, um dos quais é o jovem cavalheiro de há pouco. Passado algum tempo, quando a senhora velha conversava com a nora acerca da vida e da situação que tivera em Inglaterra, as quais não tinham sido nada boas, a senhora nova começou a ficar inquieta e, em resumo, depois de examinar bem as coisas, parece ter concluído, sem sombra de dúvida, que a mãe do marido era, também, a sua própria mãe e, consequentemente, que estava casada com o próprio irmão. A família ficou horrorizada com a descoberta e tão grande foi a confusão e o desgosto que ia sendo a ruína de todos. A jovem senhora não queria por nada viver com o marido e irmão, este andou algum tempo transtornado e, por fim, a mulher partiu para Inglaterra e nunca mais ninguém a viu nem ouviu falar a seu respeito.
É fácil de crer como fiquei transtornada com as palavras da mulher, mas impossível descrever a natureza da minha perturbação. Fingi-me surpreendida com a história, fiz mil perguntas acerca de pequenos nadas e achei-a bem informada. Por fim, interroguei-a a respeito da situação da família, como a senhora velha (minha mãe) morrera e a quem deixara o que tinha (ela prometera-me solenemente deixar-me qualquer coisa, por sua morte, de maneira que, se eu vivesse ainda, o recebesse sem que o seu filho, e meu irmão e marido, pudesse impedi-lo).
