A Cidade e as Serras - Cap. 4: CAPÍTULO IV Pág. 55 / 238

E o alto lírico do «Crepúsculo Místico», p assando a mão pelas barbas, rosnou com desdém:

- Bela mulher... Mas ancas secas, e aposto que não tem nádegas! No entanto o rapaz de loura penugem voltara à sua estranha mágoa. Não possuirmos um general com a sua espada, um bispo com o seu báculo!...

- Para quê, meu caro senhor? Ele atirou um gesto suave em que todos os seus anéis faiscaram: - Parauma bomba de dinamite... Temos aqui um esplêndido ramalhete de flores de Civilização, com um grão-duque. no meio. Imagine uma bomba de dinamite, atirada da porta!... Que belo fim de ceia, num fim de século!

E como eu o considerava assombrado, ele, bebendo goles de Chateau-Yquem, declarou que hoje a única emoção, verdadeiramente fina, seria aniquilar a Civilização. Nem a ciência, nem as artes, nem o dinheiro, nem o amor, podiam já dar um gosto intenso e real às nossas almas saciadas. Todo o prazer que se extraíra de criar estava esgotado. Só restava, agora, o divino prazer de destruir!

Desenrolou ainda outras enormidades, com um riso claro nos olhos claros. Mas eu não atendia o gentil pedante, colhido por outro cuidado - reparando que em torno, subitamente, todo o serviço estacara como no conto do Palácio Petrificado. E o prato agora devido era o peixe famoso da Dalmácia, o peixe de Sua Alteza, o peixe inspirador da festa! Jacinto, nervoso, esmagava entre os dedos uma flor. E todos os escudeiros sumidos!

Felizmente o grão-duque contava a história de uma caçada, nas coutadas de Sarvan, em que uma senhora, mulher de um banqueiro, saltara bruscamente do cavalo, num descampado, sem árvores. Ele e todos os caçadores param - e a galante senhora, lívida, com a amazona arregaçada, corre para trás de uma pedra... Mas nunca soubemos em que se ocupava a banqueira, nesse descampado, agachada atrás da pedra porque justamente o mordomo apareceu, reluzente de suor, e balbuciou uma confidência a Jacinto, que mordeu o beiço, trespassado.





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