- Mas, meu querido amigo, então é porque quiseste divertir-te à minha custa - disse eu. - Com efeito, o que aqui está é um desenho razoável, excelente até, de uma caveira, segundo as mais vulgares noções de fisiologia, e o teu escaravelho, se se parece com isto, deve ser o escaravelho mais esquisito do mundo. Bem, com isto podemos criar uma bela superstição. Suponho que lhe chamarás scarabeus caput hominis ou algo de semelhante; há vários nomes deste género nas histórias naturais. Mas onde estão as antenas de que falavas?
- As antenas! - exclamou Legrand, que parecia estar a levar o assunto demasiado a peito. - Tenho a certeza de que estás a ver as antenas. Desenhei-as o mais semelhantes possíveis ao original e acho que isso é mais que suficiente.
- Bom, está bem - disse eu -, talvez o tenhas feito. Eu é que não as vejo. - E estendi-lhe o papel sem mais comentários, pois não queria irritá-lo mais. Mas sentia-me realmente surpreendido com o rumo que as coisas estavam a tomar; o seu mau humor intrigava-me - e a verdade é que, quanto ao desenho do escaravelho, não se via qualquer espécie de antena e o todo parecia-se realmente com o desenho de uma caveira.
Legrand agarrou no papel com ar aborrecido e ia amarrotá-lo, com certeza para o atirar ao lume, quando o desenho, olhado de relance, pareceu chamar-lhe a atenção. O seu rosto tomou imediatamente um tom vermelho-vivo - para, no momento seguinte, se tornar imensamente pálido. Durante alguns minutos examinou atentamente o desenho, sem se mexer. Finalmente levantou-se, pegou numa vela que se encontrava sobre a mesa, e foi sentar-se num baú de marinheiro que se encontrava do outro lado da sala.