O Poço e o Pêndulo - Cap. 1: O poço e o pêndulo Pág. 8 / 20

Ao mesmo tempo a minha testa parecia banhada por um vapor pegajoso e o cheiro peculiar de cogumelos podres veio-me às narinas. Estendi o braço e todo eu tremi ao verificar que caíra precisamente junto à borda dum poço circular cuja extensão não tinha evidentemente maneira de calcular nessa altura. Agarrando-me à pedra que rodeava a boca do poço, consegui deslocar um pedacinho, que deixei cair no abismo. Durante longos segundos ouvi-o ricochetear contra as paredes do abismo; finalmente mergulhou lugubremente na água, acordando altos ecos. No mesmo instante ouvi acima de mim o som semelhante ao de uma porta que rapidamente se abria e imediatamente se fechava, enquanto um fraco raio de luz subitamente brilhava na escuridão e subitamente se apagava.

Vi claramente o destino que me estava reservado e alegrei-me com o incidente oportuno que me permitira escapar. Mais um passo e o mundo nunca mais me veria. E a morte evitada a tempo era precisamente daquelas que eu considerara absurda e fabulesca nas histórias que se contavam da Inquisição. Às vítimas da sua tirania só restava a escolha entre a morte com as suas terríveis agonias físicas ou a morte com as suas mais horríveis torturas morais. Fora-me destinada a última. O longo sofrimento desequilibrara-me os nervos a pontos de tremer ao próprio som da minha voz e de me ter transformado na vítima indicada para a espécie de tortura que me esperava.

Com os membros todos a tremer recuei até à parede a apalpar caminho, decidido a morrer aí de preferência a arriscar-me aos terrores dos poços com que a minha imaginação povoava agora a cela. Fora outro o meu estado de espírito e teria tido a coragem necessária para acabar imediatamente com a minha miséria mergulhando num desses abismos; mas sentia-me agora o maior dos covardes.





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