O marinheiro recuperara a sua presença de espírito enquanto Dupin falava, mas toda a sua audácia primitiva desaparecera.
- Assim Deus me ajude - disse, depois de uma breve pausa. - Vou dizer-lhe tudo o que sei sobre o assunto, mas não espero que acredite em metade sequer. Tolo seria eu se o fizesse. Mas o que é certo é que estou inocente, e diabos me levem se não vou pôr tudo em pratos limpos.
Eis o que o homem nos contou em suma: tempos atrás fizera uma viagem ao arquipélago indiano. Um bando de marinheiros de que ele fazia parte desembarcou em Bornéu e aventurou-se no interior numa excursão de recreio. Ele e um companheiro capturaram o orangotango. Este companheiro morreu e o orangotango ficou sendo propriedade exclusiva sua. Depois de muitos sarilhos causados pela ferocidade indomável do animal durante a viagem, conseguiu por fim alojá-lo na sua casa em Paris, onde, para não atrair a curiosidade desagradável dos vizinhos, o manteve encerrado até ele se curar completamente de uma ferida provocada por uma farpa de madeira do barco.