- Sente-se, meu amigo - disse Dupin. - Suponho que veio por causa do orangotango. Dou-lhe a minha palavra que quase o invejo por possuir um animal tão inteligente e sem dúvida tão valioso. Quantos anos tem ele?
O marinheiro respirou fundo como se o tivessem aliviado de um peso insuportável e respondeu em voz firme.
- Não lhe sei dizer ao certo, mas não tem mais de quatro ou cinco anos. Tem-no aqui?
- Oh, não. Não tinha instalações para o manter aqui. Está numa cavalariça aqui perto, na Rua Dubourg, Pode ir buscá-lo de manhã. É claro que está habilitado a identificar o animal?
- Estou sim, senhor.
- Vou ter pena de me separar dele - disse Dupin.
- Não quero que o senhor tenha tido este trabalho todo para nada - disse o homem. - Nem estava a contar com tal. Estou disposto a dar-lhe uma recompensa por ter achado o bicho, quer dizer, desde que seja uma quantia razoável.
- Muito bem - respondeu o meu amigo. - Tudo isso está muito certo, claro. Deixe-me pensar... Que é que lhe hei-de pedir? Ah, já sei. A minha recompensa será a seguinte: vai dizer-me tudo o que sabe acerca desses crimes da Rua Morgue.
Dupin disse estas últimas palavras em voz muito baixa e tranquila. Com a mesma tranquilidade dirigiu-se à porta, fechou-a e guardou a chave no bolso. Puxou em seguida da pistola e colocou-a sem se apressar sobre a mesa.
O marinheiro corou como se estivesse sufocado. Pôs-se em pé de um salto e agarrou na bengala, mas um segundo depois deixou-se cair na cadeira tremendo violentamente, pálido como um morto. Não disse palavra. Senti uma profunda compaixão pelo homem.
- Meu amigo - disse Dupin em tom bondoso - está a assustar-se desnecessariamente, garanto-lhe que está. Não quero prejudicá-lo. Dou-lhe a minha palavra de cavalheiro e de francês que não lhe quero fazer mal.