Os Crimes da Rua Morgue - Cap. 1: Os crimes da Rua Morgue Pág. 39 / 42

Por fim resolvera vendê-lo.

Ao voltar para casa depois de uma festa de marinheiros, na noite, ou melhor, na madrugada do crime, encontrou o animal instalado no seu próprio quarto; tinha fugido de um cubículo adjacente onde o julgava ter fechado a sete chaves. De navalha na mão e todo ensaboado, estava sentado em frente do espelho tentando barbear-se, por imitação do que tinha visto, através do buraco da fechadura, o dono fazer. Aterrado ao ver nas mãos do feroz animal uma arma tão perigosa e que ele manejava tão bem, o homem durante alguns minutos ficou sem saber o que fazer. Estava, porém, habituado a domar o animal à chicotada mesmo nos momentos mais perigosos; e resolveu também desta vez fazê-lo. Mas o orangotango ao ver o chicote saltou para a porta do quarto, desceu as escadas e saiu para a rua por uma janela que infelizmente tinha ficado aberta.

O francês, desesperado, foi atrás do macaco; este, ainda de navalha na mão, parava de vez em quando para olhar para trás e gesticular em direcção ao seu perseguidor, deixando-o aproximar-se. Depois, recomeçava a correr. Esta caça durou assim bastante tempo. As ruas estavam sossegadas, eram quase três da manhã. Ao passarem por uma viela nas traseiras. da Rua Morgue, a atenção do fugitivo foi atraída por uma luz que brilhava na janela aberta dos aposentos de Madame L’Espanaye, no quarto andar da casa. Correndo para a casa, o bicho reparou no pára-raios, trepou por ele acima com uma agilidade incrível, agarrou-se à persiana que estava completamente aberta e, balançando-se nela, atirou-se para a cabeceira da cama. Toda esta ginástica não levou mais de um minuto. O macaco voltou a abrir a persiana com um pontapé ao entrar no quarto.

Entretanto o marinheiro sentia-se ao mesmo tempo satisfeito e intrigado.





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