O Estranho Caso de Benjamin Button - Cap. 5: V Pág. 18 / 38

V

Em 1880 Benjamin Button tinha vinte anos e assinalou o seu aniversário indo trabalhar para o pai na Roger Button & Co., Grossista de Ferragens. Nesse mesmo ano começou a «sair socialmente» - ou seja, o pai insistiu em levá-lo a vários bailes em voga. Roger Button tinha, então, cinquenta anos e ele e o filho faziam cada vez mais companhia um ao outro - na verdade, desde que Benjamin deixara de pintar o cabelo (que ainda estava grisalho) pareciam ter mais ou menos a mesma idade e poderiam passar por irmãos.

Uma noite, em Agosto, meteram-se no fáeton, ambos vestidos a rigor, e seguiram para um baile na casa de campo de Shevlin, que ficava logo à saída de Baltimore. Estava uma noite maravilhosa. A lua cheia cobria a estrada com a cor baça da platina e flores de olheira tardia exalavam para o ar parado aromas semelhantes a risadas baixas, que mal se ouviam. O campo aberto, atapetado dezenas de metros em redor por trigo luminoso, estava tão transluzente como durante o dia. Era quase impossível não ser afectado pela pura beleza do céu - quase.

- Há um grande futuro no negócio dos tecidos - dizia Roger Button. Não era um homem espiritual e o seu sentido de estética não ia além do rudimentar.

«Tipos velhos como eu não aprendem novos truques - observou, em tom profundo. São vocês, jovens com energia e vitalidade, que têm um grande futuro pela frente.

Muito acima, na estrada, as luzes da casa de campo dos Shevlin surgiram à vista e, pouco depois, ouviu-se um ruído suspirante que dir-se-ia rastejar persistentemente direito a eles - poderia ter sido o belo lamento de violinos ou o roçagar do trigo prateado debaixo da Lua.

Pararam atrás de um belo carro puxado por um cavalo e cujos passageiros estavam a apear-se à porta.





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