O Grande Gatsby - Cap. 8: Capítulo VIII Pág. 154 / 173

Não veio nenhuma chamada telefónica e o mordo mo, à espera que ela chegasse, ficou até às quatro sem conseguir dormir a sesta – ficou a pé até muito depois de deixar de haver alguém a quem dar o recado, caso ela viesse. Tenho a impressão que já nem o próprio Gatsby acreditava que ela viesse e provavelmente já nem lhe importava. Se foi esse o caso, é porque deve ter sentido que para sempre perdera o seu velho e confortável mundo, que pagara um bom preço

por ter vivido demasiado tempo com um sonho único. Deve ter olhado para cima e deparado com um céu estranho, entrevisto por entre a folhagem ameaçadora, e estremecido ao descobrir que coisa grotesca pode ser uma rosa e como pode ser fria a luz do dia por cima da relva incipiente. Um mundo novo, material sem ser real, por onde pobres fantasmas, respirando sonhos como se fossem ar, derivavam furtivamente... como aquela figura de cinza, fantástica, ao seu encontro, por entre as árvores amorfas. O motorista, um dos protegidos de Wolfshiem, ouviu os tiros - se bem que depois tivesse confessado que não lhes tinha dado grande importância. Guiei da estação directamente para casa de Gatsby e a minha precipitação pelos degraus acima foi o primeiro sinal de alarme para toda a gente. Mas aposto que, nessa altura, eles já sabiam. Mal tendo pronunciado uma palavra, nós os quatro, o motorista, o mordomo, o jardineiro e eu, descemos a correr para a piscina.

Havia um ténue, quase imperceptível, movimento à superfície da água, provocado pelo fluxo frio do alimentador que procurava o seu caminho em direcção ao dreno do outro lado da piscina. Com ligeiras ondulações que mais pareciam sombras de ondas, o colchão lastrado movia-se irregularmente para o fundo da piscina. Um pequeno golpe de vento, que mal enrugou a superfície da água, foi o suficiente para perturbar a rota acidental que ele percorria com a sua acidental carga.





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