Capítulo IX Passados dois anos, ainda recordo o resto dessa tarde, e a noite, e o dia seguinte, como um infindável desfile de polícias, repórteres e fotógrafos, a entrarem e a saírem de casa de Gatsby. Uma corda, atravessada de um lado ao outro do portão principal, e um polícia, impediam a entrada dos curiosos, mas os garotos, esses, depressa descobriram que podiam entrar pelo meu pátio e havia sempre um grupo deles, de boca aberta, à volta da piscina. Naquela tarde, um sujeito de modos sentenciosos, um detective, talvez, usou a expressão «louco» ao debruçar-se sobre o cadáver de Wilson e foi a autoridade adventícia da sua voz que deu o tom às notícias dos jornais da manhã seguinte.
A maior parte das reportagens eram um pesadelo - grotescas, circunstanciais, precipitadas e falsas. Quando o depoimento de Michaelis, no inquérito, trouxe a público as suspeitas de Wilson a respeito da mulher, previ logo que a história não tardaria a ser servida em forma de picante pasquinada - mas Catherine, que podia ter dito tudo, não disse uma palavra. Revelou, antes, uma forte personalidade - olhou para o magistrado com um olhar firme, sob as sobrancelhas corrigidas, e jurou que a irmã nunca tinha visto Gatsby, que era perfeitamente feliz com o marido, que nunca tivera nenhum «deslize». Ficou mesmo convencida disso e chorou no lenço, como se a mera suspeita do mau porte da irmã a humilhasse ainda mais do que a realidade. Wilson ficou, portanto, reduzido a um ser «transtornado pela dor», para que o caso se mantivesse na sua forma mais simples. E assim ficou.
Mas tudo isto me parecia remoto e de somenos importância. Fui eu o único que ficou/ao lado de Gatsby até ao fim.
Desde que iniciei os contactos telefónicos com West Egg Village, para participar a notícia da catástrofe, só me levantaram suspeitas e questões de ordem prática a seu respeito.