A Linha de Sombra - Cap. 4: II Pág. 43 / 155

II

O capitão Ellis estendeu-me a mão, dizendo-me ao mesmo tempo: «Ora bem, ei-lo agora entregue a si próprio, oficialmente nomeado sob a minha responsabilidade».

Caminhando ao meu lado, acompanhou-me positivamente à porta. A distância pareceu-me enorme. E eu ia avançando como um homem cujos pés se encontram presos por grilhetas. Por fim, sempre chegámos. Abri a porta com a impressão de que se tratava de puro material de sonho, e, nessa ocasião, no último momento, a camaradagem da gente do mar sobrepujou a diferença de idade e de posição. Declarou-se pela voz do comandante:

«Adeus... - e boa sorte», disse-me de modo tão cordial que mal consegui responder-lhe com o olhar cheio de gratidão. Depois voltei-me para sair e nunca mais voltei a vê-lo em toda a minha vida. Mal dera ainda dois passos na sala da repartição, quando ouvi atrás das minhas costas uma voz brusca, de timbre subido, cheia de autoridade, a voz do vice-Neptuno.

Estava a dirigir-se ao escrivão da capitania, que, após me ter introduzido no gabinete, ficara, como é evidente, a planar a meia altura pelas imediações.

«Senhor R., mande dar ordens à lancha da capitania para estar a postos para conduzir o capitão a bordo do Mefita às nove e meia de hoje.»

O tom de espanto com que R. respondeu a estas palavras confundiu-me: «Sim, senhor comandante». E correu à minha frente, cá para fora, no patamar. A minha nova dignidade poisara em mim só tão de leve ainda que não entendi que era eu próprio o capitão, objecto daquela amabilidade. De súbito, parecia que um par de asas me crescera nos ombros. Os meus pés roçavam de tão alados agora o soalho encerado.

Mas R. estava impressionado.

«Escute cá!», exclamou no patamar da escada, enquanto a tripulação malaia, em sentido, fitava impassível o homem por causa do qual haviam de ficar de serviço ate tão tarde, interrompidos os seus jogos de azar, distantes das suas raparigas ou das suas alegrias caseiras mais inocentes.





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