A Linha de Sombra - Cap. 4: II Pág. 60 / 155

Era um espanto pensar que, ao longo de tantas milhas cheias de casas de seres humanos, não haveria provavelmente meia dúzia de pregos. Algumas das casas, construídas com estacas e capim, como nidificações de uma espécie aquática, tocavam as águas baixas da margem. Outras pareciam subir das águas, outras ainda eram flutuantes, dispunham-se em longas fieiras, com a âncora lançada em pleno centro do caudal. Por aqui e ali, um pouco à distância, por sobre a densa massa das empenas dos telhados escuros e castanhos, baixos, erguiam-se, cheias de magnificência, grandes construções de alvenaria, o palácio real, templos soberbos em ruínas, desmoronando sob o sol a pino, que tremulava, esmagador, quase palpável, parecendo penetrar-nos o peito através da respiração das narinas a embeber-se em todo o corpo através dos poros da pele.

A vítima ridícula dos ciúmes em relação à minha pessoa

viu-se forçada, por um motivo qualquer, a parar as máquinas precisamente naquela altura. O vapor continuou a subir lentamente o rio, sob o impulso da maré. Esquecido totalmente de tantas coisas novas que me cercavam" eu andava a passear pelo deque, num estado de espírito abstracto, A de ansiedade e tédio, amalgamando assim um sonho romântico e a revisão extremamente prática das minhas competências. porque estava perto o momento em que iria ver o meu navio e prestar as provas finais da minha carreira.

De súbito, ouvi o imbecil chamar-me. Estava a fazer-me sinal para subir à ponte do barco.

Não é que eu sentisse grande interesse, mas como parecera ter alguma coisa a dizer-me, lá subi a escada.

Ele poisou-me a mão no ombro, fazendo-me virar um pouco, ao mesmo tempo que estendia o braço apontando alguma coisa.

«Veja! Ali está o seu navio, comandante», disse-me.





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