A hostilidade dos homens nada me dizia. Pensava no meu navio que não conhecia ainda. E isso era distracção bastante, tormento e ocupação suficientes.
O outro deu pelo meu estado de espírito, porque a sua astucia era aguçada quanto o preciso para tanto, e depois, passou a tentar produzir gracejos cretinos, adoptando os modos habituais de certos velhos cínicos e desagradáveis perante os sonhos e os desenganos da juventude. Pelo meu lado, ia-me dominando para conseguir não lhe perguntar como era o meu barco, embora soubesse que aquele homem, Viajando ate Banguecoque todos os meses, o devia conhecer de vista. Mas não queria de maneira nenhuma expor à menor referência pejorativa o meu navio - aquele navio...
Tratava-se também do primeiro homem realmente isento de toda a simpatia com que me via em contacto. A minha formação estava muito longe de se encontrar completa, ainda que eu não o soubesse. E não, não sabia!
Tudo o que sabia era que o homem me detestava e alimentava um considerável desprezo por mim. Porquê? Sem dúvida, porque o seu navio tivera um atraso de três horas por minha causa. Quem era eu para merecer uma coisa dessas? Nunca lhe haviam feito nada de semelhante. E ele ficara cheio de uma espécie de indignação ciumenta.
As minhas esperanças, juntamente com o meu temor, erguiam-se, puxadas à escravelha, até ao máximo do diapasão. Que lentos foram os dias daquela viagem, e como acabaram depressa! Um dia, de manhã cedo, entrámos na barra e, enquanto o sol subia esplêndido por cima das extensões da terra rasa, nós subíamos as inúmeras curvas do rio, passávamos pela sombra de enormes templos dourados e chegávamos aos arredores da cidade. Lá estava ela, amplamente espalhada pelas duas margens, a capital do Oriente, aquela cidade ainda isenta da conquista branca; casaria desdobrado e em tons de castanho, feito de bambus, de esteiras, de folhagens de árvores, numa estilística arquitectónica vegetal, cujos materiais emergiam do solo castanho também, encimando as margens do no lamacento.