— Assim deves fazer, Sancho — disse D. Quixote — e avisar-me-ás de tudo o que neste caso se descobrir e de tudo o que te suceder no governo.
Saiu, enfim, Sancho, acompanhado de muita gente, vestido à moda dos letrados, e por cima da roupa um gabão muito largo de chamelote cor de pele de leão, com um gorro da mesma fazenda, montado num macho à gineta, e atrás dele, por ordem do duque, ia o ruço, com jaezes e ornatos burricais flamantes e de seda. Voltava Sancho a cabeça de quando em quando para ver o seu jumento, cuja companhia o contentava tanto, que se não trocaria pelo imperador da Alemanha.
Ao despedir-se dos duques, beijou-lhes as mãos e tomou a bênção de seu amo, que lha deu com lágrimas e Sancho recebeu-a com umas caretas de enternecimento.
Deixa, leitor amável, ir em paz e em boa hora o bom Sancho, e espera duas fanegas de riso, que te há-de render o saberes como ele se portou no governo da sua ilha; e, entretanto, vamos ver o que passou seu amo naquela noite, que também te fará rir um pedaço.
Conta-se, pois, que, apenas Sancho partiu, sentiu D. Quixote a sua soledade, e, se lhe fosse possível revogar a nomeação de Sancho, e tirar-lhe o governo, fá-lo-ia sem a menor hesitação.
Percebeu a duquesa a sua melancolia e perguntou-lhe por que motivo estava triste: que se era pela ausência de Sancho, havia em sua casa escudeiros, donas e donzelas com fartura, que o serviriam muito a seu sabor.
— É certo, senhora minha — respondeu D. Quixote — que sinto a ausência de Sancho, mas não é essa a causa principal que por agora