— Que dizeis a isto, bom velho do bordão? — perguntou Sancho.
— Eu, senhor — respondeu o velho — confesso que mos emprestou; abaixe Vossa Mercê essa vara, e já que ele confia no meu juramento, eu jurarei que lhos restitui real e verdadeiramente.
Abaixou o governador a vara, e entretanto o velho deu a cana ao outro, pedindo-lhe que lha segurasse, enquanto ele jurava, como se o embaraçasse muito, e logo em seguida pôs a mão na cruz da vara e disse que era verdade que lhe tinham emprestado aqueles dez escudos que lhe pediam, mas que os restituíra de mão em mão, e que decerto o credor não reparara nesse pagamento, pois que lhos tornava a reclamar de quando em quando.
Vendo isto, o grande Sancho perguntou ao credor o que respondia ele ao que dizia o seu contrário, e alegou este que sem dúvida alguma o seu devedor falaria verdade, porque o tinha por homem de bem e bom cristão, e que decerto fora ele que se esquecera de como e de quando lhos restituíra; que dali por diante nunca mais lhe pediria coisa alguma. Tornou a pegar na cana o devedor e, abaixando a cabeça, saiu do tribunal. E Sancho, vendo isto, notando que se ia embora, sem mais nem mais, e observando também a