O Regresso de Sherlock Holmes - Cap. 12: A Aventura de Abbey Grange Pág. 316 / 363

Mas se não tivesse tomado as coisas como certas e se tivesse examinado tudo com a mesma atenção que teria se abordasse o caso de novo sem ter uma história com princípio, meio e fim a bloquear-me o espírito, não teria encontrado algo de mais definitivo em que me basear? É claro que teria. Sente-se aqui neste banco Watson, até chegar um comboio que pare em Chiselhurst, e deixe que lhe apresente os factos, mas pedindo-lhe que elimine do seu espírito a ideia de que aquilo que a criada e Lady Brackenstall disseram é necessariamente verdade. A encantadora personalidade da senhora não nos deve impedir de um raciocínio isento.

»Há, com certeza, certos pormenores na sua história que, encarados friamente, suscitariam as nossas suspeitas. Aquela quadrilha de ladrões efectuou um roubo de vulto em Sydenham, há quinze dias. Os jornais trouxeram relatos do acontecimento e a descrição dos ladrões que naturalmente viria à ideia de alguém que quisesse inventar uma história na qual interviessem ladrões. Na realidade, os ladrões que têm um golpe de sorte num assalto, o que querem, regra geral, é gozar em paz os frutos obtidos sem embarcar tão depressa noutro perigoso empreendimento. Mais; não é habitual os ladrões actuarem tão cedo, como não é habitual baterem numa senhora para a impedirem de gritar, pois imagina-se que essa é a forma mais segura de ela de facto gritar e não é habitual assassinarem alguém quando o seu número lhes permite dominar essa pessoa. Não é também habitual contentarem-se com um saque limitado quando há mais valores ao seu alcance e finalmente, diria que não é de todo habitual deixarem uma garrafa semivazia. Que é que acha de todas estas improbabilidades, Watson?

- O seu efeito cumulativo é, de facto, considerável e, no entanto, cada um dos factos é, em si, possível.





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