«Mas, apesar de tudo isto, não consigo mudar de opinião e continuo a acreditar que, se a isso vos decidísseis, os vossos conselhos na corte de um príncipe seriam de grande utilidade para a república. Para mais, esse sacrifício seria para vós um dever, pois é o dever de todo o bom cidadão. Por isso, Platão afirmou que a humanidade atingirá a felicidade perfeita no dia em que os filósofos forem reis e os reis filósofos. Como está longe de nós essa felicidade se os filósofos nem sequer orientam os reis com os seus conselhos.
Rafael respondeu então:
- Não são tão egoístas como afirmais. Fá-lo-iam com muita satisfação, e muitos o fizeram já em livros que publicaram, se os . príncipes e os senhores estivessem dispostos a seguir os conselhos que lhes dão. Mas, sem dúvida, Platão anteviu que os próprios príncipes não seguirão nunca os conselhos dos filósofos, imbuídos como estão, desde a infância, de princípios falsos e preconceitos errados, a menos que os próprios príncipes se apliquem eles próprios no estudo da filosofia. O próprio Platão teve disso experiência na corte de Dionísio, tirano de Siracusa.
«Imaginemos que proponho a um príncipe decretos justos, esforçando-me por arrancar do seu espírito os germes do mal