AO LUAR
 
 
 I
 
 
Dorme tu, que eu velo, amor! 
Não sei quem me pôs no leito 
Espinhos sob o meu corpo, 
Desgostos dentro do peito...
 
 
Mal que o sono entra comigo 
Começo logo a sonhar... 
Contigo é que eu sonho, filha, 
Vê se posso descansar!
 
 
Este coração cansado! 
O que ele quer é dormir... 
Por esses mundos da vida, 
Na asa dos sonhos fugir!
 
 
O que ele quer é deitar-se 
No leito do esquecimento... 
Oh! com que cantos, à noite, 
Não nos adormece o vento!
 
 
Mas o desgosto não deixa, 
Não quer deixá-lo sonhar... 
- «Ergue-te tu, coração, 
Vem ver a luz do luar!» -
 
 
Lindas noites de luar! 
Vou sentar-me à tua porta, 
Como um pai se senta imóvel 
Na campa da filha morta.