Uma Praga Rogada nas Escadas da Forca - Cap. 6: V Pág. 8 / 29

V

Francisco de Lucena espreitava a oportunidade de empurrar a filha para fora de casa. Aspirou, primeiro, aos morgados; mas encontrou-os pouco apreciadores de formosura e fidalguia. Recorreu, depois, aos burgueses ricos, e encontrou um negociante de alto bordo, que recebeu a proposta com afabilidade e trabalhou desde logo em levar a fim um casamento que permitia aos filhos de seu filho apelidarem-se Lucenas.

O pai anunciou à filha o seu rico futuro, e encontrou-a fria. Apresentou-lhe o noivo, e viu-a enjoada. O noivo, porém, era um rapaz de fina educação, d'alguma inteligência, de brios que o ouro lhe estimulava, e de orgulho superior à sua classe, porque, há 50 anos, a classe comercial era muito humilde, suposto já trabalhasse para esta época de barões comerciais, que, digam lá o que disserem, é o mais palpitante triunfo da democracia. Para me não meter em graves questões sociais, entenda-se que D. Eulália repeliu a felicidade que seu pai lhe anunciara com tanto júbilo, e declarou-se sentimental, por tempo de quinze dias fechada no seu quarto, sem querer ver sol nem lua.

Mas o pai apoquentava-a, sempre que podia, pintando-lhe a mesquinhez do seu futuro, e a pobreza de sua legítima, que orçaria talvez por três mil ducados. E era isto verdade.





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