Não omiti nada do que devia dizer uma pessoa infinitamente grata, para que soubesse que avaliava como merecia a sua generosidade. A partir daí mostrei-me menos reservado do que até então, embora nos mantivéssemos ambos nos limites da mais completa virtude. Mas, por muito francas que fossem as nossas conversas, nunca recorri à liberdade que ele desejava, ou seja, a dizer-lhe que precisava de dinheiro, ainda que, intimamente, muito me agradasse a sua oferta.
Passaram semanas sem que lhe solicitasse auxílio. Até que a minha hospedeira, criatura astuta que muitas vezes me incitara a fazê-lo, compreendeu que o meu acanhamento me não permitiria tal ousadia, inventou uma história e irrompeu pela sala onde nos encontrávamos juntos, dizendo:
- Oh, viúva, tenho más notícias para ti esta manhã!
- Que aconteceu? os barcos da Virgínia foram apresados pelos Franceses? - perguntei, pois era esse o meu receio.
- Não, não! Mas o homem que mandaste ontem a Brístol buscar dinheiro voltou e disse que não trouxe nada.
O estratagema não me agradou de maneira nenhuma, pois parecia-me uma instigação muito clara, o que por certo também não agradaria ao meu amigo, e percebi perfeitamente que não perderia nada se me mostrasse esquiva no pedir. Respondi, por isso, asperamente:
- Não compreendo como ele lhe disse tal coisa, pois garanto-lhe que me trouxe tudo quanto lhe pedi e que está aqui. - Tirei a bolsa, com cerca de doze guinéus, e acrescentei: - Por sinal, a maior parte será para si.