O meu amigo pareceu um pouco aborrecido com as suas palavras, do mesmo modo que eu, considerando-as, como eu previra, um atrevimento da parte dela. Mas, quando me viu dar tal resposta, voltou a ser o mesmo de sempre. Na manhã seguinte falámos de novo no assunto e, sorridente, disse esperar que eu não deixaria de o informar se precisasse de dinheiro, como lhe prometera. Confessei-lhe que ficara muito aborrecida por a minha hospedeira ter falado da maneira que falara, na véspera, de um assunto que não lhe dizia respeito, mas que supunha tê-lo feito por querer que eu lhe pagasse o que lhe devia, cerca de oito guinéus, que lhe entregara na mesma noite em que procedera tão levianamente.
Pareceu muito satisfeito quando me ouviu dizer que pagara à mulher e mudou de conversa. Mas, na manhã seguinte, ouvindo-me levantada antes dele, chamou-me e pediu-me que fosse ao seu quarto. Estava deita- do quando entrei e mandou-me sentar junto da cama, pois queria falar-me de assunto importante. Depois de algumas frases bondosas perguntou-me se seria muito franca com ele e daria uma resposta sincera à pergunta que desejava fazer-me. Após especular um pouco com a palavra «sincera» e de indagar se alguma vez lhe dera respostas que o não fossem, prometi o que pretendia. A sua pergunta era se consentia que visse a minha bolsa. Levei imediatamente a mão à algibeira e, a rir, tirei a bolsa, que continha três guinéus e meio. Perguntou-me se era aquele todo o meu dinheiro, respondi-lhe que não, de maneira nenhuma, e ri novamente.
Quis então que prometesse ir buscar tudo quanto possuísse, até à última moeda; voltei ao meu quarto e trouxe-lhe uma gavetinha onde tinha mais perto de seis guinéus e alguma prata. Despejei tudo em cima da mesa e declarei-lhe que estava ali toda a minha fortuna, até ao último xelim.
