- De que se trata, minha querida?
- É um bocado difícil para mim, mas sê-lo-á mais ainda para ti. Constou-me que o capitão... (referi o marido da minha amiga) te disse que tenho muito mais dinheiro do que jamais declarei possuir, e garanto-te que nunca o encarreguei de espalhar tal coisa.
- Bem, o capitão... pode, de facto, ter-me falado nesse assunto, mas que importa? Se não tens tanto como ele disse, a mentira foi sua, pois, como nunca me participaste o que possuías, não poderei censurar-te, ainda que não tenhas nada.
- És tão justo e tão generoso que o facto de o que tenho ser pouco é uma dupla angústia para mim.
- Quanto menos tiveres, minha querida, pior será para nós ambos. Só espero que essa angústia de que falas não seja devida a medo de que eu seja desagradável contigo por te faltar dote. Se não tens nada, diz-mo francamente e já; poderei, talvez, dizer ao capitão que me enganou, mas a ti não poderei acusar-te do mesmo, pois não é verdade teres-me dado a entender que eras pobre? Portanto, já devia esperar que o fosses.
- Bem, meu querido, estou contente por não te ter iludido antes de nos casarmos e não te iludirei depois, o que seria pior. É infelizmente verdade que sou pobre, mas não tanto que não possua alguma coisa. - Tirei algumas notas e dei-lhe cerca de cento e sessenta libras, acrescentando: - Aqui tens uma parte, meu querido; ainda não é tudo.
Como, em virtude das minhas palavras, quase não esperava nada, o dinheiro, embora pouco, causou-lhe dupla satisfação. Confessou-me que era mais do que pensava e que supusera, pelo que lhe havia dito, que as minhas boas roupas, o meu relógio de ouro e os anéis de diamantes eram toda a minha fortuna.