Ouviu Banford a falar às galinhas, lá ao longe, mas foi como se não ouvisse. Em que pensava? Só Deus o sabe. Como sempre, a sua consciência estava longe, ficara para trás.
Acabara de baixar os olhos quando, de repente, viu o raposo. E este estava a olhar para ela. Tinha o focinho descaído e os olhos levantados, fitando o espaço à sua frente. Então, os seus olhares encontraram-se. E ele reconheceu-a. Ela estava fascinada, como que enfeitiçada, sabendo que ele a reconhecia. Ele olhou-a bem dentro dos olhos e ela sentiu-se desfalecer, como se a alma lhe fugisse. Ele reconhecia-a, por isso não tinha medo.
Mas ela esforçou-se por reagir, recobrando confusamente o domínio de si mesma, enquanto o via afastar-se, aos saltos por sobre alguns ramos caídos, saltos lentos, vagarosos, descarados. Então, virando a cabeça, ele voltou a mirá-la mais uma vez e desapareceu depois numa corrida pausada, suave. Ela ainda lhe viu a cauda erguida, ondulando leve como uma pena, assim como as manchas brancas dos quadris, cintilando na distância. E assim se foi, suavemente, tão suave como o vento.
Ela levou então a arma ao ombro, e mais uma vez franziu os lábios num esgar, sabendo 'que era um disparate tentar disparar. Assim, começou a segui-lo devagar, avançando na direção que ele tomara, lenta, obstinadamente. Tinha esperanças de o encontrar. No mais íntimo de si mesma, estava decidida a encontrá-lo. Não pensou naquilo que faria quando o voltasse a ver, mas estava decidida a encontrá-lo. E assim andou muito tempo pela orla do bosque, absorta, perdida, os olhos negros muito vivos, muito abertos, um ligeiro rubor nas faces quentes. Ia sem pensar. Numa estranha apatia, o cérebro vazio, vagueou de cá para lá.
Por fim, deu-se conta de que Banford estava a chamá-la.