A Cidade e as Serras - Cap. 10: CAPÍTULO X Pág. 184 / 238

.. está bem...» Fui eu que dei ao pequenito um tostão, para o fartar, o despegar das nossas pessoas. Mas como ele, com o seu tostão bem agarrado, nos seguia ainda como no sulco da nossa magnificência, o Silvério teve de o espantar, como a um pássaro, batendo as mãos, e de lhe gritar:

- Já para casa! E leve esse dinheiro à mãe. Roda, roda!...

- E nós vamos almoçar - lembrei eu olhando o relógio. O dia ainda vai estar lindo.

Sobre o rio, com efeito, reluzia um pedaço de azul lavado e lustroso; e a grossa camada de nuvens já se ia enrolando sob a lenta varredela do vento, que as varria, despejadas e vazias, para um canto escuso dos céus.

Então recolhemos lentamente para casa, por uma vereda íngreme, que ensinara o Silvério, e onde um leve enxurro vinha ainda, saltando e chalrando. De cada ramo tocado, rechovia uma chuva leve. Toda a verdura que bebera largamente reluzia consolada.

Bruscamente, ao sairmos da estreita vereda, para um caminho mais largo, entre um socalco e um renque de vinha, Jacinto parou, tirando lentamente a cigarreira:

- Pois, Silvério, eu não quero mais estas horríveis misérias na quinta. O procurador deu um jeito aos ombros, com um vago «Eh! eh!» de obediência e dúvida.

- Antes de tudo - continuava Jacinto - mande já hoje chamar esse Dr. Avelino para aquela pobre mulher... E os remédios que os vão buscar logo a Guiães. E recomendação ao médico para voltar amanhã, cada dia; até que ela melhore... Escute! E quero, Silvério, que lhe leve dinheiro à pobre gente, para os caldos, para a dieta, uns dez ou quinze mil réis... Bastará?

O procurador não conteve um riso respeitoso. Quinze mil réis! Uns tostões bastavam... Nem era bom acostumar assim, aquela gente a tanta franqueza. Depois todos queriam todos pedinchavam.





Os capítulos deste livro