Procurar livros:
    Procurar
Procurar livro na nossa biblioteca
 
 
Procurar autor
   
Procura por autor
 
marcador
  • Sem marcador definido
Marcador
 
 
 

Capítulo 10: CAPÍTULO X

Página 183
.. Ai Senhor! O Silvério, sem mesmo se abeirar da porta, com o guarda-chuva em riste, meio aberto, como um escudo contra a infeção, lançou uma vaga consolação:

- Não há de ser nada, tia Maria!... Isso foi friagem! Foi friagem! - E, sobre o ombro de Jacinto, encolhendo ele os ombros: - já Vossa Excelência vê... Muita miséria! Até. chove dentro.

E, no bocado de chão que viam, chão de terra batida, uma mancha húmida reluzia, da chuva caída através da telha rota. A parede, coberta de fuligem, das longas fumaraças da lareira, era tão negra como o chão. E aquela penumbra de porcaria escura parecia atulhada, numa desordem escura, de trapos, cacos, restos, onde só mostravam forma compreensível uma arca de pau negro, e por cima, pendurado de um prego, entre uma serra e uma candeia, um grosso saiote escarlate.

Então Jacinto, muito embaraçado, murmurou simplesmente - Está bem... está bem... E largou pelo campo para o lado do alpendre como se fugisse, enquanto o Silvério decerto, revelava à rapariga a presença augusta do «fidalgo», porque a sentimos, da porta, levantar a voz dolente:

- Ai! Nosso Senhor lhe dê muita boa sorte! Nosso Senhor o acompanhe! Quando o Silvério, com as grandes passadas das suas grandes botas, nos colheu, no meio do campo, Jacinto parara, olhava para mim, com os dedos trémulos a torturar o bigode, e murmurava:

- É horrível, Zé Fernandes, é horrível. Ao lado o vozeirão do Silvério trovejou: - Que queres tu outra vez, rapaz? Vai para a tua mãe, criatura! Era o pequeno rotinho, esfaimadinho, que se prendia a nós, num imenso pasmo das nossas pessoas, e com a confusa esperança, talvez, que delas, como de deuses encontrados num caminho, lhe v esse afago ou proveito. E Jacinto, para quem ele mais especialmente arregalava os olhos tristes, e que aquela miséria, e a sua muda humildade, embaraçavam, acanhavam horrivelmente, só soube sorrir, murmurar o seu vago «Está bem.

<< Página Anterior

pág. 183 (Capítulo 10)

Página Seguinte >>

Capa do livro A Cidade e as Serras
Páginas: 238
Página atual: 183

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
CAPÍTULO I 1
CAPÍTULO II 15
CAPÍTULO III 26
CAPÍTULO IV 41
CAPÍTULO V 62
CAPÍTULO VI 75
CAPÍTULO VII 88
CAPÍTULO VIII 105
CAPÍTULO IX 144
CAPÍTULO X 177
CAPÍTULO XI 188
CAPÍTULO XII 195
CAPÍTULO XIII 201
CAPÍTULO XIV 212
CAPÍTULO XV 220
CAPÍTULO XVI 223