A Cidade e as Serras - Cap. 4: CAPÍTULO IV Pág. 53 / 238

Ao lado o colo de Madame Verghane arfava como uma onda de leite. E o meu pobre Jacinto, numa aplicação conscienciosa, pendia sobre o Teatrofone tão tristemente como sobre uma sepultura.

Então, perante aqueles seres de superior civilização, sorvendo num silêncio devoto as obscenidades que a Gilberte lhes gania, por debaixo do solo de Paris, através de fios mergulhados nos esgotos, cingidos aos canos das fezes, - pensei na minha aldeia adormecida. O crescente de Lua, que, seguido de uma estrelinha, corria entre nuvens sobre os, telhados e as chaminés negras dos Campos Elísios--também andava lá fugindo, mais lustrosa e mais doce, por cima dos pinheirais. As rãs. Coaxavam ao longe no pego da Dona. A ermidinha de S. Joaquim branquejava no cabeço, nuazinha e cândida...

Uma das senhoras murmurou: - Mas, não é a Gilberte!... E um dos homens: - Parece um cornetim... - Agora são palmas... - Não, é o Paulin! O grão-duque lançou um «chut» feroz... No pátio da nossa casa ladravam os cães. De além do ribeiro respondiam os cães do João Saranda; Como me encontrei descendo por uma quelha, sob as ramadas, com o meu varapau ao ombro? E sentia, entre a seda das cortinas, num fino ar macio, o cheiro das pinhas estalando nas lareiras, o calor dos currais através das sebes altas, e o sussurro dormente das levadas...

Despertei a um brado que não saía nem dos eidos, nem das sombras. Era o grão-duque que se erguera, encolhia furiosamente os ombros:

- Não se ouve nada!... Só guinchos! E um zumbido! Que maçada!... Pois é uma beleza, a cançoneta:

Oh les casquettes, Oh les casque-e-e-ttes!...

Todos largaram os fios - proclamavam a Gilberte deliciosa. E o mordomo bendito, abrindo largamente os dois batentes, anunciou:

- Monseigneur est servi! Na mesa, que pelo esplendor.





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