Maurício sacudia os ombros. Oh, tudo isso pertencia a um passado arcaico, quase lacustre! Quando Madame de Lamotte-Orcel remobilara a sala com veludos Morris, grossas alcachofras sobre tons de açafrão, já o Renanismo, passara, tão esquecido como o Cartesianismo...
- Tu ainda és do tempo do culto do Eu? O meu Príncipe suspirou risonhamente: - Ainda o cultivei. - Pois bem! Logo depois foi o Hartmanismo, o Inconsciente. Depois o Nietzschismo, o Feudalismo Espiritual... Depois grassou o Tolstoismo, um furor imenso de renunciamento neocenobítico. Ainda me lembro de um jantar em que apareceu um mostrengo de um eslavo, de guedelha sórdida, que atirava olhos medonhos para o decote da pobre condessa de Arche, e que grunhia com o dedo espetado: «Busquemos a luz, muito por baixo, no pó da terra!» E à sobremesa bebemos à delícia da humildade e do trabalho servil, com aquele Champagne Marceaux granitado que a Matilde dava nos grandes dias em copos da forma do Santo Graal! Depois veio Emersonismo... Mas a praga cruel foi Ibsenismo! Enfim, meu filho, uma Babel de Éticas e Estéticas. Paris parecia demente. já havia uns desgarrados que tendiam para o Luciferismo. E amiguinhas nossas, coitadas, iam descambando para o Falismo, uma moxinifada místico-brejeira, pregada por aquele pobre La Carte que depois se fez Monge Branco, e que anda no Deserto... Um horror! E uma tarde, de repente, toda esta massa se precipita com ânsia. para o Ruskinismo!
Eu, agarrado à bengala, bem fincada no chão, sentia como um vendaval que redemoinhava, me torcia o crânio! E até Jacinto balbuciou, esgazeado:
- O Ruskinismo? - Sim, o velho Ruskin... John Ruskin! O meu ditoso Príncipe compreendeu: - Ah, Ruskin!... «As Sete Lâmpadas da Arquitetura», «A Coroa de Oliveira Brava» É o culto da Beleza.