Olhei para o meu amigo num espanto mudo.
- Espero agora - disse este, olhando para a porta do apartamento -, espero uma pessoa que, embora não sendo talvez o autor desta carnificina, deve estar de certo modo implicado nela. Da parte pior dos crimes cometidos é provável que esteja inocente. Espero que esta minha suposição esteja certa; porque nela se baseia a minha esperança de decifrar o enigma. O homem deve vir aqui (a este quarto) de um instante para o outro. É verdade que pode não vir; mas a probabilidade é que venha. Nesse caso é preciso detê-lo. Estão aqui umas pistolas; e ambos sabemos como usá-las se a ocasião o exigir.
Peguei nas pistolas, sem bem saber o que fazia e sem acreditar no que ouvia, enquanto Dupin continuava como num solilóquio. Já mencionei os seus modos distraídos em momentos destes. As suas palavras eram-me dirigidas; mas a voz, embora o seu tom fosse baixo, tinha aquela entoação própria de quando se fala a uma grande distância. Os seus olhos, inexpressivos, estavam fitos na parede.
- Está mais que provado- disse ele - que as vozes que se ouviram a discutir não eram das duas mulheres.