O Estranho Caso de Benjamin Button - Cap. 5: V Pág. 19 / 38

Sai u uma senhora, depois um cavalheiro idoso e depois uma jovem senhora bela como o pecado. Benjamin estremeceu.

Uma mudança quase química pareceu dissolver e recompor os próprios elementos do seu corpo. Percorreu-o um calafrio, subiu-lhe o sangue às faces e à testa e sentiu um latejar constante nos ouvidos. Era o primeiro amor.

A jovem era esbelta e frágil, com cabelo cor de cinza ao luar e cor de mel sob os crepitantes candeeiros a gás do alpendre. Cobria-lhe os ombros uma mantilha espanhola de um suavíssimo amarelo salpicado de borboletas pretas, e os seus pés eram botões cintilantes na fímbria do vestido com anquinhas.

- Aquela - disse Roger Button, inclinando-se para o filho - é Hildegarde Moncrief, filha do general Moncrief.

Benjamin acenou friamente com a cabeça. - Bonita criaturinha - comentou, com indiferença. Mas, quando o criado negro se afastou com a carruagem, acrescentou: Podia apresentar-ma, pai.

Aproximaram-se de um grupo do qual Miss Moncrief era o centro. Educada segundo a antiga tradição, fez uma mesura acentuada. Sim, concedia-lhe uma dança. Ele agradeceu-lhe e afastou-se - estonteado.

O compasso de espera, até que chegasse a sua vez, prolongou-se interminavelmente.

Benjamin manteve-se junto da parede, silencioso e impenetrável, observando com olhos mortíferos os jovens de Baltimore que se moviam em redor de Hildegarde Moncrief e cujos rostos revelavam uma admiração apaixonada. Como lhe pareciam detestáveis e insuportavelmente rosados! As suas patilhas castanhas encaracoladas despertavam nele um sentimento equivalente a indigestão.

Mas quando chegou a sua vez e deslizou com ela pelo chão mutável ao ritmo da música da mais recente valsa parisiense, os seus ciúmes e ansiedades dissolveram-se e escorreram dele como um manto de neve.





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