O Grande Gatsby - Cap. 8: Capítulo VIII Pág. 141 / 173

Foi nessa madrugada que ele me contou a estranha história da sua juventude com Dan Cody - e só ma contou porque o «Jay Gatsby» se tinha estilhaçado como vidro de encontro à dura malícia de Tom e a prolongada e secreta extravaganza tinha chegado ao fim. Penso que me teria então confessado tudo sem reservas, mas o que ele queria era falar de Daisy.

Era a primeira rapariga «decente» que ele conhecia. Por artes e ofícios diversos, não revelados, ele já tinha entrado em contacto com aquele tipo de gente, mas pondo sempre de permeio invisível arame farpado. Achou-a excitantemente desejável. Foi a casa dela, primeiro com outros oficiais de Camp Taylor, depois sozinho. E ficou maravilhado - nunca estivera antes numa casa tão bela. Mas o que lhe dava aquele ar de irrespirável intensidade era o facto de Daisy ali morar - facto para ela tão casual como para ele era o de viver numa tenda de campanha ao ar livre. Pairava sobre ela um suculento mistério, um indício de que havia no andar de cima quartos de dormir mais belos e mais frescos do que outros quaisquer, um indício de alegres e radiosas actividades a desenrolar-se pelos corredores, e de romances ainda não bolorentos nem conservados em alfazema, mas frescos e a rescender aos resplandecentes automóveis desse ano, e de bailes cujas flores mal tinham tempo de murchar. Excitou-o também o facto de que muitos homens tinham já amado Daisy - o que, aos seus olhos, aumentava o valor dela. Sentiu a presença deles por toda a casa, impregnando a atmosfera de sombras e ecos de emoções ainda a vibrar.

Mas sabia que estava em casa de Daisy por um colossal acidente. Por muito glorioso que o seu futuro como Jay , Gatsby pudesse vir a ser, presentemente ele era um rapaz sem vintém, sem passado, e em qualquer momento invisível manto de militar lhe podia escorregar dos ombros.





Os capítulos deste livro